Em sua primeira homilia, no dia seguinte à sua eleição ao Sumo Pontificado, o Santo Padre o Papa Francisco recordava o perigo da ilusão de pertencer à Igreja, mas de, na verdade, continuar pertencendo ao mundo. Foi o que ele chamou de "mundanismo do diabo".
Quando não se confessa Jesus Cristo, se confessa o mundanismo do diabo, o mundanismo do demônio [...] Quando caminhamos sem a Cruz, edificamos sem a Cruz ou confessamos um Cristo sem Cruz, não somos discípulos do Senhor: somos mundanos, somos bispos, padres, cardeais, papas, mas não discípulos do Senhor. O mesmo tema retorna, mais uma vez, na primeira Solenidade dos Apóstolos São Pedro e São Paulo de seu pontificado:
O papel, o serviço eclesial de Pedro tem o seu fundamento na confissão de fé em Jesus, o Filho de Deus vivo, tornada possível por uma graça recebida do Alto. Na segunda parte do Evangelho de hoje, vemos o perigo de pensar de forma mundana. Quando Jesus fala da sua morte e ressurreição, do caminho de Deus que não corresponde ao caminho humano do poder, voltam ao de cima em Pedro a carne e o sangue: «Pedro começou a repreendê-Lo, dizendo: (…) Isso nunca Te há de acontecer!» (16, 22). E Jesus tem uma palavra dura: «Afasta-te, Satanás! Tu és para Mim um estorvo» (16, 23). Quando deixamos prevalecer os nossos pensamentos, os nossos sentimentos, a lógica do poder humano e não nos deixamos instruir e guiar pela fé, por Deus, tornamo-nos pedra de tropeço. A fé em Cristo é a luz da nossa vida de cristãos e de ministros na Igreja! O perigo de ser um cristão mundano é então uma tema fundamental deste pontificado.
Vivemos num tempo de mentalidade marqueteira. Agradar o auditório parece ser o maior dos mandamentos. E, neste narcisismo autocomplacente, muitos homens de Igreja deixam de pregar o evangelho com o medo de desagradar.
Trata-se de um método pastoral desastrado que só é capaz de gerar falsas conversões. E a falsa conversão é muito mais perigosa do que a não conversão, pois ela deixa a pobre alma num contentamento burguês que impede a verdadeira conversão.
Não há verdadeira comunhão com Deus se não houver ruptura com o diabo e com a mundanidade.
Compreenda-se bem. Nada impede que a Igreja use de métodos retóricos (marketing) para atrair inicialmente os seus ouvintes. O que não se pode fazer é transformar este recurso inicial – lícito, se não prostituir a mensagem – numa finalidade em si mesma, esquecendo de anunciar a cruz de Cristo, ou seja, a morte para o mundo e a ruptura com o pecado.
Nós, pastores de almas, devemos nos perguntar se a falta de coerência de tantos "católicos que frequentam nossas paróquias não se dá exatamente porque ninguém lhes convidou à ruptura com a mundanidade.
O Papa Francisco nos convida ao "combate do martírio (cf. Homilia, 29/06/2013). Assim anunciaremos como São Pedro e São Paulo o verdadeiro evangelho:
Prega a palavra, insiste oportuna e importunamente, repreende, ameaça, exorta com toda paciência e empenho de instruir. Porque virá tempo em que os homens já não suportarão a sã doutrina da salvação. Levados pelas próprias paixões e pelo prurido de escutar novidades, ajustarão mestres para si. Apartarão os ouvidos da verdade e se atirarão às fábulas. Tu, porém, sê prudente em tudo, paciente nos sofrimentos, cumpre a missão de pregador do Evangelho, consagra-te ao teu ministério (2 Tim 4, 2-5). T
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