Pe. Elílio de Faria Matos Júnior
Muitos católicos ainda não suficientemente conscientes de sua fé pensam que a Santa Missa é apenas um encontro entre irmãos para uma oração comunitária. Não, a Missa, sem deixar de ser um encontro entre irmãos, é muito mais do que uma reunião fraterna. Na verdade, a Santa Missa condensa e torna atual toda a obra da Redenção. Pela Missa, é Deus que, antes de tudo, vem ao nosso encontro; e só porque Ele vem até nós, nós podemos ir até Ele. Vamos ao Pai por Jesus Cristo na força do Santo Espírito.
    Na Oração sobre as oferendas da Missa da Ceia do Senhor – Missa in Coena Domini - , o sacerdote pronuncia estas palavras: “Concedei-nos, ó Deus, a graça de participar dignamente da Eucaristia, pois todas as vezes que celebramos este sacrifício em memória de Vosso Filho, torna-se presente a obra de nossa Redenção. Por NSJC”. Uma meditação sobre a riqueza dessa oração seria capaz de dar-nos uma visão adequada do mistério da Santa Missa.
    A oração primeiramente pede que sejamos dignos de participar da Eucaristia. Com efeito, por ser um dom tão elevado, a Eucaristia nos faz tremer. Somos frágeis e pecadores. Deus é forte e santo. O profeta Isaías experimentou o contraste entre a santidade de Deus e a nossa miséria: “Ai de mim, estou perdido! Sou um homem de lábios impuros, vivo entre um povo de lábios impuros, e, no entanto, meus olhos viram o rei, o Senhor dos exércitos” (Is 6,5). A oração é atendida, pois Deus toca os seus lábios impuros e os purifica: “Agora que isto tocou os teus lábios tua culpa está sendo tirada, teu pecado, perdoado” (Is 6, 7). Semelhantemente, tornamo-nos aptos a tão elevado dom em virtude da misericórdia de Deus. O mesmo Senhor que purificou os lábios de Isaías purifica, em Cristo, o nosso coração.
    Depois a oração explica em que consiste a grandeza da Eucaristia. É que todas as vezes que a celebramos, a obra da nossa Redenção torna-se presente. Como entender isso? Deus nos tirou das trevas e do pecado por meio de Jesus Cristo, que é a Luz do mundo e o Cordeiro de Deus que dissolve o pecado. Toda a vida de Jesus, na Palestina, foi um contínuo ato de obediência à vontade do Pai. A sua obediência, que encontrou máxima expressão na morte de cruz, é capaz de desfazer a nossa desobediência. A sua vida é capaz de enriquecer e transformar a nossa vida. A sua morte e ressurreição mudaram para sempre o sentido da nossa vida e da nossa morte. Em Cristo, tornamo-nos eternos. “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Ora, tudo isso é a obra da Redenção rea lizada por Jesus. Mas como entrar em contato com essa obra? Como apropriar-se da Redenção? O grande meio deixado por Jesus, ao lado da escuta da Palavra de Deus e do serviço da caridade, são os sacramentos da Igreja, entre os quais sobressai a Eucaristia. Na Eucaristia, o mistério de Cristo torna-se realmente presente sob o véu dos sinais sacramentais. A “memória de Vosso Filho” mencionada na oração acima não é a simples recordação (nuda commemoratio), mas é memória em sentido ativo, isto é, uma memória que traz o acontecimento passado – a obra realizada por Jesus na Palestina – para o presente da nossa história. Ora, se o mistério de Cristo está presente, a nossa Redenção, cujo autor é o próprio Cristo, também se faz presente, e, assim, nós podemos beber na fonte da graça. A Santa Missa torna presente no hoje de nossa história a obra redentora do Senhor Jesus.
    Uma pergunta que poderia ficar: Por que a oração que estamos meditando chama a Eucaristia de sacrifício ao dizer “todas as vezes que celebramos esse sacrifício”? Para entendê-lo é preciso reconhecer que a vida e a obra de Jesus foi um sacrifício. Sim, a obediência de Jesus e todas as suas atitudes, de modo especial a doação na cruz, foram um sacrifício – uma oferta, uma ação sagrada – agradável aos olhos do Pai. Ora, a Missa, ao tornar presente o mistério de Cristo que se doou até a cruz, é um verdadeiro sacrifício. A Missa não repete o sacrifício de Cristo, mas o torna presente. Na verdade, pela Missa, Cristo une a Igreja, que é seu Corpo Místico, ao seu único sacrifício. Nesse sentido, o Papa João Paulo II afirmou: “Este sacrifício é tão decisivo para a salva� �ão do gênero humano que Jesus Cristo realizou-o e só voltou ao Pai depois de nos ter deixado o meio para dele participarmos como se tivéssemos estado presentes” (Encíclica Ecclesia de Eucharistia, n. 11).
    Caro leitor, poderíamos ainda dizer muitas coisas sobre as inesgotáveis riquezas da Missa. Fiquemos, por enquanto, por aqui. Lembramos que, antes de tudo, a Missa é um mistério de fé, e é a fé consciente e madura que nos deve levar a amar a Missa e fazer dela o grande meio de união com Deus e com os irmãos.