domingo, 7 de julho de 2013

Fé e Verdade

Fé e verdade

23. Se não acreditardes, não compreendereis (cf. Is 7, 9): foi assim que a versão grega da Bíblia hebraica — a tradução dos Setenta, feita em Alexandria do Egipto — traduziu as palavras do profeta Isaías ao rei Acaz, fazendo aparecer 
como central, na fé, a questão do conhecimento da verdade. Entretanto, no texto hebraico, há uma leitura diferente; aqui o profeta diz ao rei: 
«Se não o acreditardes, não subsistireis». Existe aqui um jogo de palavras com duas formas do verbo ‘amàn: «acreditardes» (ta’aminu) e «subsistireis» (te’amenu). Apavorado com a força dos seus inimigos, o rei busca a segurança que lhe pode 
vir de uma aliança com o grande império da Assíria; mas o profeta convida-o a confiar apenas na verdadeira rocha que não vacila: o Deus de Israel. Uma vez que Deus é fiável, é razoável ter fé n’Ele, construir a própria segurança sobre a sua 
Palavra. Este é o Deus que Isaías chamará mais adiante, por duas vezes, o Deus-Amen, o «Deus fiel» (cf. Is 65, 16), fundamento inabalável de fidelidade à aliança. Poder-se-ia pensar que a versão grega da Bíblia, traduzindo «subsistir» por 
«compreender», tivesse realizado uma mudança profunda do texto, passando da noção bíblica de entrega a Deus à noção grega de compreensão. 
E no entanto esta tradução, que aceitava certamente o diálogo com a cultura helenista, não é alheia à dinâmica profunda do texto hebraico; 
a firmeza que Isaías promete ao rei passa, realmente, pela compreensão do agir de Deus e da unidade que Ele dá à vida do homem e à história do povo. O profeta exorta a compreender os caminhos do Senhor, encontrando na fidelidade 
de Deus o plano de sabedoria que governa os séculos. Esta síntese entre o «compreender» e o «subsistir» é expressa por Santo Agostinho, nas 
suas Confissões, quando fala da verdade em que se pode confiar para conseguirmos ficar de pé: 
«Estarei firme e consolidar-me-ei em Ti, (…) na 
tua verdade».17 Vendo o contexto, sabemos que este Padre da Igreja quer mostrar que esta verdade fidedigna de Deus é, como resulta da Bíblia, a sua presença fiel ao longo da história, a sua capacidade de manter unidos os tempos, recolhendo 
a dispersão dos dias do homem.
24. Lido a esta luz, o texto de Isaías faz-nos concluir: o homem precisa de conhecimento, precisa de verdade, porque sem ela não se mantém de pé, não caminha. Sem verdade, a fé não salva, não torna seguros os nossos passos. Seria 
uma linda fábula, a projeção dos nossos desejos de felicidade, algo que nos satisfaz só na medida em que nos quisermos iludir; ou então reduzir-se-ia a um sentimento bom que consola e afaga, mas permanece sujeito às nossas mudanças de ânimo, à variação dos tempos, incapaz de sustentar um caminho constante na vida. Se a fé 
fosse isso, então o rei Acaz teria razão para não jogar a sua vida e a segurança do seu reino sobre uma emoção. Mas não é! Precisamente pela sua 
ligação intrínseca com a verdade, a fé é capaz de oferecer uma luz nova, superior aos cálculos do rei, porque vê mais longe, compreende o agir de 
Deus, que é fiel à sua aliança e às suas promessas.

CARTA ENCÍCLICA
LUMEN FIDEI
DO SUMO PONTÍFICE
FRANCISCO
AOS BISPOS
AOS PRESBÍTEROS E AOS DIÁCONOS
ÀS PESSOAS CONSAGRADAS
E A TODOS OS FIÉIS LEIGOS

SOBRE A FÉ

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