quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Do misteriosíssimo, eficacíssimo e dulcíssimo nome de Maria

Porque, ordinariamente, todos os fiéis têm sua particular
inclinação a algum Santo ou alguma Santa, fundada em motivos particulares, v. g., da pátria, ou do nome, ou dos milagres famosos que obrou, ou dos benefícios que recebeu; e a esse tal Santo costumam
invocar em suas necessidades, oferecer os seus dons e frequentar as suas Igrejas. Tudo isso é louvável e meritório. Porém, muito mais razão é que toda essa devoção se una e reforce em dar honra e culto à Santa de todos os Santos, que é a Mãe de Deus, d’Ele mais amada e melhor ouvida que toda a Corte Celestial junta. Por essa sua admirável singularidade merece a Senhora esse singular afeto nosso e contínua memória, e suas excelências para com Deus não têm exemplo, seus benefícios para conosco não têm número. E
assim como o Santíssimo Sacramento do Altar é relíquia viva da presença visível de Cristo neste mundo, que excede incomparavelmente a todas as
relíquias dos Santos, e tem por autêntica o mesmo Evangelho e o testemunho
de toda a Igreja Católica, assim a devoção com a Virgem Mãe excede
as devoções de quaisquer Santos e Santas, não só pela dignidade do objeto,
mas também pela prontidão e facilidade no despacho de nossas petições.
Logo, se havemos de rezar, rezemos a Nossa Senhora; se havemos de
visitar alguma Igreja, seja dedicada em honra da Senhora, ou em qualquer
outra busquemos e veneremos a sua imagem; se damos esmola, de melhor
vontade a demos quando nos é pedida em louvor da Senhora; e o seu nome
seja para nós um quase-conjuro ou adjuração, que nos obriga a deferir-lhe;
se oramos, seja por mão da Senhora, e busquemos a sua presença no Empíreo
à mão direita do Rei da Glória, onde assiste, apresentando-lhe nossos
desejos pios e petições humildes; se comungamos, tenhamos particular e
enternecida memória de que, também debaixo das espécies sacramentais,
recebemos
12 alguma parte daquela primeira substância da Virgem, que de
suas puríssimas entranhas ministrou para encarar o Verbo Divino, e a substância
com que o alimentou nove meses em seu ventre e todo o tempo que
lhe deu leite a seus peitos, nutrindo aquele mesmo Corpo Divino que o
Senhor sacramentou e que, já ressuscitado, sacramenta qualquer sacerdote.
Se celebramos missa, seja quanto permitirem as rubricas ou as obrigações
particulares em louvor da Senhora. E a esse propósito referirei aqui o que
sucedeu a um sacerdote, que, por devoção da Senhora, sempre d’Ela dizia
missa: do qual uso, acusado como ignorante ao bispo (que era S. Tomás
de Cantuária), ele o suspendeu. Mas a Santíssima Virgem, invocada pelo
sacerdote, pobre e aflito, lhe apareceu e disse: Vai, e da minha parte diz ao
bispo que te restitua no grau. Senhora (replicou ele), eu sou desprezível,
não hei de ter entrada. Tornou a Senhora: Eu te abrirei caminho: e para o
bispo te crer, dir-lhe-ás por final que eu, tal dia, hora e lugar, remendando
ele o cilício, eu lhe tinha mão nele de uma banda. Recebido o recado, admirou-
se o Santo e disse ao sacerdote estas palavras, conforme as traz Cesário
13:
Eu te concedo digas missas só de Nossa Senhora, e roga por mim.
Bem poderia lembrar-lhe no caso aquilo de Sto. Ambrósio a outro intento:
Et si error, pietatis tamen error est
14: Ainda que errava, era erro pio, porque é
piedade honrar os pais:
Matrem considerate, matrem cogitate. E voltando ao nosso
intento, tudo quanto obramos seja quanto nos for possível por mãos de
Maria:
Omnia per manus Mariae, logo abaixo das mãos de nosso MediadorJesus Cristo: porque desse modo atalhamos mais e cansamos menos.

Padre Manuel Bernardes
(1644-1710)
Meditações sobre os principais
mistérios da Virgem
Santíssima Senhora Nossa
Mãe de Deus, Rainha dos Anjos e
Advogada dos Pecadores





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