domingo, 29 de janeiro de 2017

Nossa Senhora do Rosário milagrosa Padroeira de Lima (Peru)

Inúmeros são os milagres registrados pela História, operados por intercessão de Nossa Senhora, através de alguma de suas imagens: enfermos curados, pecadores convertidos, necessitados socorridos. Entretanto, uma imagem da Virgem Santíssima que tenha dirigido a palavra a três santos... não é habitual. Esse prodígio entretanto ocorreu com a imagem da Padroeira de Lima, que falou com Santa Rosa de Lima, São João Macias e São Martim de Porres!
  • Valdis Grinsteins
Entramos na igreja do Rosário, que fica próxima da bela e ampla Praça de Armas, em Lima, no Peru. Em silêncio, caminhamos da porta para o altarmor, passando ao lado de vários altares e imagens de santos da Ordem dominicana. Do lado esquerdo aparece uma imagem de Nossa Senhora – belíssima. Em determinado momento, meu acompanhante diz:
– “Ouça, se ocorrer um terremoto fique perto desta imagem”.
Surpreso, olho para ele. Já presenciei terremotos e sei que, no momento do tremor da terra, todos sentem uma inclinação natural de correr para onde não haja nada que possa cair sobre a cabeça. Vendo minha desconfiança, ele narra o que aconteceu com São João Macias.
– "Ele estava rezando neste local quando começou um terremoto. São João Macias levantou-se, e, como qualquer mortal, correu para o claustro do convento. Nisto ouviu que a imagem lhe dizia: ‘Frei João, Frei João, aonde vais?’ Ele teve ânimo para deter-se  e responder: ‘Senhora, estou fugindo como os outros do rigor de vosso Santíssimo Filho’. Então Nossa Senhora respondeu-lhe: ‘Volta e fica tranqüilo, que aqui estou eu’. Depois disso o Santo sempre afirmava que não tinha melhor refúgio para os terremotos do que a capela da Virgem do Rosário. De fato, sempre que ocorre um terremoto na cidade, pede-se aos fiéis presentes nessa igreja que não saiam, e até hoje nunca se lamentou qualquer desgraça".
– “Convenceu-me!, respondi-lhe. Em caso de terremoto aqui ficarei, bem ao lado da Virgem”.
No início de seu culto, milagre espetacular
A imagem de Nossa Senhora do Rosário, de tamanho natural, tem uma história que se confunde com a da cidade de Lima. Quando fundada, em 1535, a capital peruana recebeu a imagem como presente do Imperador Carlos V.
Quando os espanhóis foram conquistar a cidade de Cuzco, capital do Império Inca, encontraram um formidável exército de indígenas barrando a entrada. A desproporção era tremenda: os espanhóis contavam apenas 600 homens, enquanto os índios somavam dezenas de milhares. Quando estes foram atacar os espanhóis, apareceu Nossa Senhora do Rosário com uma vara na mão, com a qual ameaçava os pagãos, impedindo-os de ferir os católicos. Ante esta visão, os indígenas não só fugiram, mas pediram a paz e muitos solicitaram o batismo.
Foram tantos os milagres realizados pela imagem que numerosas confrarias foram fundadas para propagar sua devoção. A primeira foi de silvícolas, em 1554. Seguiram-se uma de nobres chamada "dos espanhóis", em 1562, e outra denominada de "pardos", em 1564. As senhoras doavam suas jóias à imagem, que chegou a ser uma das mais ricas da cidade. Muitos nobres deixavam em seus testamentos indicações para lhe serem ofertados seus bens. O altar, o andor, os tocheiros, tudo era de prata. De tal maneira afluíam as doações que, por ocasião da procissão de 1643,  a imagem levava dois milhões de pérolas e jóias diversas! E tudo isso era feito com o bom gosto e a categoria que caracterizam os usos e costumes da nação peruana.
Em 1922, por ocasião do ato da coroação canônica da imagem, foram distribuídos seis mil rosários de prata e nácar aos presentes à solenidade!
Nossa Senhora do Rosário e seus devotos santos...
Todavia, as melhores jóias de Nossa Senhora não são as materiais, mas aquelas almas santas que brilharam por suas virtudes e devoção a Ela.
Santa Rosa de Lima - Gregório Vasques (séc XVII) Museu de Arte Colonial, Bogotá (Colômbia)
Uma das maiores devotas dessa imagem foi a grande Santa Rosa de Lima. Consta na Bula de sua canonização que Nossa Senhora do Rosário conversou com ela. Quando a santa contava  pouca idade, perguntou à imagem se deveria ser chamada Isabel (seu nome de batismo) ou Rosa (denominação usada por sua mãe e nome com o qual Santo Toríbio de Mogrovejo a tinha crismado). Nossa Senhora respondeu-lhe que se chamasse Rosa de Santa Maria.
Outro milagre se deu num domingo de Ramos. Quando ela foi rezar diante da imagem, notou que Nossa Senhora a olhava com especial benevolência. E que, em determinado momento, voltou-se para o Menino Jesus em seus braços. Este disse então à Santa: "Rosa de meu coração, Eu te quero por esposa". Santa Rosa caiu desmaiada. No piso da igreja onde o prodígio aconteceu, encontra-se hoje uma placa comemorativa do fato. Além disso, quando Santa Rosa faleceu, seu corpo foi levado para a igreja do Rosário. Ao entrar ali o corpo da Santa, a face de Nossa Senhora resplandeceu de modo brilhante, maravilha testemunhada por todos os presentes.
São João Macías estava certo dia orando diante da imagem quando de repente entrou em êxtase,  ficando suspenso no ar. Um noviço dominicano, Frei Antonio Espino, presenciou o prodígio e saiu correndo para comunicar a todos do convento. Contudo, São João interceptou-o na porta,  proibindo-o de narrar o que vira até sua morte.
De São Martim de Porres conta-se que não só conversava com a imagem, mas que, em certa ocasião, esta ordenou a um anjo que tocasse o sino do convento, função exercida por São Martim, que se encontrava ausente.
Milagres para todo tipo de devotos
No dia 19 de novembro de 1614,  um devoto, Afonso Pérez de Guzmán, foi rezar diante da imagem. Ele era um soldado espanhol que tinha sido ferido pelos índios araucanos no Chile, durante uma batalha. Coxo, só podia andar de muletas. Quando implorava ajuda a Nossa Senhora do Rosário, sentiu que as forças lhe faltavam e desmaiou. Ao acordar, estava totalmente curado. O osso estava no seu lugar e desaparecera o buraco – tão grande que nele se podia introduzir a mão – aberto pelo ferimento.
Na parede da capela da milagrosa imagem via-se outrora um tambor pendurado. Estranho e inusitado objeto, representava ele um contraste com as numerosas jóias doadas pela nobreza de Lima. Qual a origem desse tambor? No ano de 1615, enfrentaram-se nas águas do Pacífico a esquadra espanhola e a de um pirata holandês. Em meio à luta, um capitão espanhol de nome Albendín, estando ferido e vendo seu barco afundar, invocou a proteção da Virgem do Rosário, tendo pulado na água. Para não morrer afogado, agarrou-se a um tambor – objeto que dificilmente se manteria boiando. Mas, contra toda a expectativa, as ondas lançaram o capitão na praia, com o seu tambor salvador. E, em agradecimento, o militar deixou-o pendurado na parede da capela, onde permanece por mais de 200 anos.
Segura Protetora nos terremotos ... espirituais
Esses são alguns dos milagres materiais operados pela prodigiosa imagem. Os espirituais, no entanto  – tão mais importantes, como por exemplo as conversões –, fruto das graças recebidas diante dela, são também muito numerosos. Por isso, há sempre devotos rezando aos pés da milagrosa Padroeira de Lima.
Lentamente e com muito pesar, tive que me afastar da imagem. Quanta história, quanta bondade, quantos milagres realizaram-se naquele local! E refletia então: se por ocasião de um  terremoto físico é seguro estar perto dEla, quanto mais necessário não será sua intercessão nestes dias de contínuos terremotos espirituais?
Para o coração materno a distância não existe. Assim, quando o caro leitor sentir tudo tremer a seu lado e muitas coisas ameaçarem cair-lhe sobre a cabeça, não deixe de invocar Nossa Senhora do Rosário.  Ela o protegerá!
Fontes de referência:

Recopilação de fatos históricos da Arquiconfraria de Nossa senhora do Rosário de Espanhóis, Irmãos 24, Lima, 1945.
- Rubén Vargas Ugarte, S.J., Historia del culto a Maria en Iberoamérica, Tallerres Gráficos Jura,  Madrid, 3ª edição, 1956.

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