terça-feira, 28 de maio de 2013

O ícone da Santíssima Trindade, de Roublev


 Moscou, 1.425
Gênesis18,1-13

Por Drutmar Cremer.

Pode parecer estranho falar do Senhor, uma vez que n’Ele há três pessoas. Pode-se também falar d’Ele no plural. A Revelação que Deus fez d’Ele mesmo em três é a base da compreensão deste ícone russo do XV século. É verdadeiramente uma meditação em uma mensagem teológica profunda.Os três anjos sentados à mesa expressam, ao mesmo tempo, a autoridade e o amor que existem entre Eles. Ao redor da cabeça, as auréolas, as asas e a semelhança das três pessoas, pode-se fazer um círculo que é o símbolo da eternidade, sem princípio e sem fim.Entre os pés dos dois anjos, um triângulo verde representa a Trindade. Está aberto no exterior para nos convidar a entrar nessa comunhão com as três pessoas. Estes três anjos se assemelham em sua atitude, sua fisionomia, suas asas, sua cabeleira e no cetro que cada um tem na mão. A auréola em torno das cabeças é o símbolo da Santidade. Os anjos partilham intimamente sua unidade. Entretanto, podem-se notar as diferenças.

O anjo à esquerda representa Deus, o Pai de onde vem o poder e a Palavra. Ele se mantém majestoso em sua túnica púrpura dourada, segurando o cetro com as duas mãos, símbolo da dignidade que Ele espera em silêncio. Ele olha com amor seu Filho sentado do outro lado da mesa. Neste silêncio tão pleno, pode-se quase ouvir o Filho de Deus dizer um “SIM” sagrado à vontade Santa de Deus.

O Filho aceita fazer-se homem e inclina a cabeça. Ele põe sua mão aberta sobre a mesa que, conforme a velha tradição russa significa a terra. A aceitação de fazer-se homem e um “SIM” único do Filho ao mundo, pois tudo foi “criado para Ele e por Ele” (Col 1,16).

Nós podemos nos perguntar se todo engajamento de um homem feito livremente por Deus não é um eco da Palavra do Pai ao mundo. “Quem possui o Filho possui a vida” (I Jo 5,12). O Filho também veste uma túnica verde, símbolo da vida.

O Espírito, o 32º anjo, olha o Pai. O ciclo da vida se fecha com o Espírito. O Espírito escuta o Pai. Ele inclina a cabeça como o Filho e sua atitude de disponibilidade é reforçada. Suas asas estão sobre as do Pai e uma asa aflora com ternura a do Filho. O que Ele escuta do Pai volta ao Filho. É isso que significa sua mão direita e os dedos que abençoam; a mão descansa sobre a mesa ao mesmo nível que a do Filho. Neste mundo, o Filho se oferece em perfeito sacrifício a Deus através do Espírito eterno. (Hebreus, 9,14).

O cálice ao centro desta Santa Comunidade lembra a realidade do sacrifício. O Espírito Santo é o servidor, o inspirador do diálogo entre o Pai e o Filho, como mostra a estola do diácono no seu vestido. Uma corrente de vida passa pela Santíssima Trindade, o Amor torna-se Palavra e púlpito quando o Filho se faz homem; a história se completa quando o Filho morre na cruz. A árvore ao fundo lembra isso, é o carvalho de Mambré ou mais? É a arvore do jardim do Paraíso contrastando com a árvore da Cruz no Gólgota.

Em Jesus e em sua vida, Deus que era estrangeiro e distante, passou a ser o Deus próximo e presente. Em Jesus, nós podemos ver Deus. Ele procura a terna afeição não à distancia; dá um amor pronto para o sacrifício, dá sentido a tudo quanto existe no mundo, pois Ele está além da compreensão. Ele nos convida a entrar nesse jorro “da Vida Trinitária”.

Mas uma coisa e necessária: o “SIM” vindo do coração, o “SIM” da alegria que se torna Esperança. T

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