“Honra teu pai e tua mãe”
É o único mandamento ligado a uma promessa: “Honra teu pai e tua mãe, para que os teus dias se prolonguem na terra que o Senhor teu Deus te dará”(Ex 20,12; Dt 5,16).
Onde este preceito é acolhido e fielmente observado, os anciãos sabem que não correm o perigo de ser considerados um peso inútil e incômodo..
O pai e a mãe indicam o passado, o laço entre uma geração e outra, a condição que torna possível a mesma existência de um povo.
“Levanta-te perante uma cabeça branca e honra a pessoa do ancião” (Lv 19,32). Honrar os anciãos exige a seu respeito um tríplice dever: o acolhimento, a assistência, a valorização das suas qualidades.
É preciso convencer-se de que é próprio de uma civilização plenamente humana respeitar e amar os anciãos, para que estes se sintam, apesar da diminuição das forças, parte viva da sociedade.
“O peso da idade é mais leve para quem se sente respeitado e amado pelos jovens” (Cícero).
O espírito humano, mesmo ressentindo-se do envelhecimento do corpo, permanece de certa forma sempre jovem, se viver orientado para o eterno.
Todos conhecemos exemplos eloqüentes de anciãos com uma surpreendente juventude e força de espírito. Possa a sociedade valorizar plenamente os anciãos, que em algumas regiões do
mundo são estimados como “bibliotecas vivas” de sabedoria, guardiões de um patrimônio inestimável de testemunhos humanos e espirituais. Se é verdade que do ponto de vista físico, em geral necessitam de ajuda, é igualmente certo que, na sua idade avançada, podem oferecer apoio à caminhada dos jovens que se debruçam sobre o horizonte da existência para provar os rumos.
Enquanto falo aos anciãos, não posso deixar de dirigir-me também aos jovens para convidálos a permanecerem ao seu lado. Exorto-vos, caros jovens, a fazê-lo com amor e generosidade. Os anciãos podem dar-vos muito mais de quanto possais imaginar. O livro do
Eclesiástico adverte: “Não desprezes os ensinamentos dos anciãos, porque eles o aprenderam dos seus pais” (8,9); “Freqüenta a companhia dos anciãos, se encontrares algum sábio faze-te
amigo dele” (6,34); porque “quão bela é a sabedoria dos anciãos” (25,5).
A comunidade cristã pode receber muito da serena presença dos que têm muitos anos de idade. Em quantas famílias os netinhos recebem dos avós os primeiros rudimentos da fé!
Quantos encontram compreensão e conforto em pessoas anciãs sós ou doentes, mas capazes de infundir coragem pelo conselho bondoso, a oração silenciosa, o testemunho do sofrimento acolhido com paciente abandono! Justamente quando as energias vêm a faltar e se reduz a sua capacidade de movimento, estes nossos irmãos e irmãs tornam-se mais preciosos no desígnio misterioso da Providência.
O lugar mais natural para viver a condição de ancianidade continua a ser aquele ambiente onde ele é “de casa”, entre parentes, conhecidos e amigos, e onde pode prestar ainda algum
serviço. Na medida que, com o aumento da vida média, cresce a faixa dos anciãos, será sempre mais urgente promover esta cultura de uma ancianidade acolhida e valorizada, não marginalizada. O ideal é que o ancião fique na família, com a garantia de ajudas sociais
eficazes, relativamente às necessidades crescentes que supõem a idade ou a doença. Existem, porém, situações em que as próprias circunstâncias aconselham ou exigem o ingresso em
“Lares de terceira idade” a fim de que o ancião possa gozar da companhia de outras pessoas e usufruir de uma assistência especializada.
CARTA AOS ANCIÃOS – do Papa João Paulo II
De 1º de outubro de 1999
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