Pensemos, primeiro, na infância de Jesus. Foi um período em que Deus confiou o seu Filho
inteiramente aos cuidados de Maria. Dela Jesus dependia em tudo, como qualquer criança depende
de sua mãe: da sua solicitude, do seu amor, da sua dedicação. Podemos até dizer que, falando
humanamente, Jesus Menino subsistia ao amparo da maternidade de Maria. E foi no clima desse
amor materno – e do aconchego dado também pelo amor de São José – que o Menino cresceu e se
desenvolveu.
Mas, já na infância o papel de Maria vai além dessa dedicação materna. Por acaso já
reparamos que foi precisamente a Virgem Santíssima quem, pela primeira vez, manifestou Jesus
aos homens como seu Salvador? É um fato. A graça de Cristo em favor dos homens começou a
atuar no mundo pelas mãos de Maria. Foi aos pés de Nossa Senhora que desabrochou a fé dos
pastores e dos Magos, os primeiros adoradores daquele recém-nascido que, como anunciaram os
Anjos na noite de Natal, “é o Cristo, o Senhor” (Lc 2, 11).
Como é significativo que Deus tenha disposto que os primeiros encontros das almas com
Jesus ocorressem através da Mãe! Vislumbra-se aí um desígnio divino, que o Evangelho irá
explicitando cada vez mais.
Ainda na infância de Cristo, é também Maria – acompanhada por seu esposo castíssimo,
São José – quem apresenta Jesus no Templo de Jerusalém, oferecendo-o a Deus Pai. A
apresentação do Menino vem a ser como um prenúncio da oferenda definitiva do Filho que Maria
irá fazer trinta e três anos depois, ao pé da Cruz. No momento da apresentação, o Espírito Santo já
vaticina à Mãe, através das palavras proféticas de Simeão, esta última e radical oferenda: Uma
espada – uma espada de dor – transpassará a tua alma (cfr. Lc 2, 22-35).
À infância de Jesus une-se, perfazendo trinta anos, a vida oculta no lar de Nazaré. Trinta
anos! É a maior parte da vida do Senhor. Um longo período em que Cristo já está a salvar-nos.
Porque esse período de vida oculta não foi um compasso de espera, sem relevo nem transcendência.
Nesses anos, Jesus, vivendo junto de Maria e de José, estava redimindo a humanidade. Cada um
dos seus atos, cada um dos seus gestos tinha infinito valor redentor. Pois bem, na vida oculta –
como causa alegria considerar esta verdade! –, Cristo nos salva justamente cumulando de amor e de
sentido divino as pequenas coisas da existência cotidiana: a vida em família, de que a Mãe é o
centro; o trabalho na oficina de José; o descanso e as pequenas alegrias e sacrifícios do cotidiano...,
enchendo de luz divina o caminho por onde discorre a vida da imensa maioria dos homens[NOTA
DE REFERÊNCIA: cfr. Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, Quadrante, São Paulo, 1975, págs.
14-15;].
Mas, se prestarmos atenção ao que o Evangelho nos relata sobre a vida oculta,
descobriremos ainda algo mais. Como é que o Evangelho resume a atitude interior de Jesus ao
longo desses trinta anos? De uma maneira muito simples, mas carregada de ensinamentos. São
Lucas define com três palavras essa atitude: Era-lhes submisso (Lc 2, 51). Quanto não diz esta
breve frase! O Filho de Deus, o próprio Deus feito homem, quis passar a maior parte da sua vida
obedecendo a Maria e a José – numa voluntária e amorosa submissão – e deixando-se guiar por
eles.
Sejam quais forem as conseqüências espirituais que se possam deduzir disto – e são muitas
–, basta-nos agora sublinhar duas realidades: por um lado, Jesus Cristo quis ligar, vincular
estreitamente a maior parte da sua vida terrena à vida de sua Mãe; por outro, decidiu – se nos é
permitido falar assim – dar um enorme peso à vontade de sua Mãe, até o ponto de, como dizíamos,
ter vivido trinta anos fazendo-lhe caso, obedecendo-lhe. Esta disposição de obediência de Cristo à
Mãe é de grande importância para compreendermos o papel que Deus quis atribuir a Maria.
FRANCISCO FAUS
MARIA, A MÃE DE JESUS
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