sábado, 21 de abril de 2018

A confiança em Deus e as necessidades espirituais: Deus concede-nos todos os socorros necessários para a santificação e a salvação de nossa alma

Certas almas angustiadas duvidam da própria salvação. Lembram-se demasiado de faltas passadas; pensam nas tentações tão violentas que, por vezes, nos assaltam a todos; esquecem a bondade misericordiosa de Deus. Essa angústia pode tornar-se uma verdadeira tentação de desespero.
Em moço, São Francisco de Sales conheceu uma provação dessas: tremia de não ser um predestinado ao Céu. Passou vários meses nesse martírio interior. Uma oração heroica o libertou: o santo prosternou-se diante de um altar de Maria; suplicou à Virgem que o ensinasse a amar seu Filho com uma caridade tanto mais ardente sobre a terra, quanto ele temia não poder amá-Lo na eternidade.
Nesse gênero de sofrimento, há uma verdade de fé que nos deve consolar imensamente. Só nos perdemos pelo pecado mortal.
Ora, sempre o podemos evitar, e, quando tivermos a desgraça de cometê-lo, poderemos sempre nos reconciliar com Deus. Um ato de contrição sincera, feito logo, sem demora, nos purificará, enquanto esperamos a confissão obrigatória, que convém se faça sem detença.
Certamente a pobre vontade humana deve sempre desconfiar da sua fraqueza. Mas o Salvador nunca nos recusará as graças de que carecemos. Fará também todo o possível para ajudar-nos na empresa soberanamente importante, da nossa salvação.
Eis a grande verdade que Jesus Cristo escreveu com o seu Sangue e que vamos agora reler juntos na história da sua Paixão.
Já tereis algum dia refletido como puderam os judeus apoderar-se de Nosso Senhor? Acreditareis, por acaso, que isso conseguiram pela astúcia ou pela força? Podeis imaginar que, na grande tormenta, Jesus foi vencido porque era o mais fraco?
Seguramente não. Os inimigos nada podiam contra Ele. Mais de uma vez, nos três anos de suas pregações, haviam tentado matá-Lo. Em Nazaré, queriam jogá-Lo num precipício; por várias vezes tinham apanhado pedras para lapidá-Lo. Sempre, porém, a sabedoria divina desfez os planos dessa ímpia cólera; a força soberana de Deus reteve-lhes o braço; e Jesus afastou-Se sempre tranquilamente, sem que ninguém tivesse conseguido fazer-Lhe o menor mal.
Em Getsêmani, ao dizer Ele simplesmente seu nome aos soldados do Templo vindos para assenhorearem-se da sua pessoa sagrada, toda a tropa cai por terra tocada de estranho pavor. Os soldados só se podem levantar pela permissão que Ele lhes dá.
Se Jesus foi preso, se foi crucificado, se foi imolado, é que assim o quis, na plenitude da sua  liberdade e do seu amor por nós. Oblatus est quia voluit (Isaías LIII, 7).
Se o Mestre derramou, sem hesitar, o Sangue todo por nós, se morreu por nós, como poderia recusar-nos graças que não são absolutamente necessárias e que Ele próprio nos mereceu pelas suas dores?
Essas graças, Jesus as ofereceu misericordiosamente às almas mais culpadas durante a Paixão dolorosa. Dois Apóstolos haviam cometido um crime enorme: a ambos ofereceu o perdão.
Judas O atraiçoa e Lhe dá um beijo hipócrita. Jesus fala-lhe com doçura tocante; chama-lhe seu amigo; procura à força de carinho tocar esse coração endurecido pela avareza. Meu amigo, porque vieste?  - Judas, tu trais o Filho do homem com um beijo? (Lucas XXIII, 48). É esta a última graça do Mestre ao ingrato.
Graça de tal força, que jamais lhe mediremos bem a intensidade. Judas, porém, a repele: perde-se, porque assim formalmente o prefere.
Pedro cria-se muito forte... Tinha jurado acompanhar o Mestre até a morte, e O abandona quando O vê às mãos dos soldados. Só O segue então de longe. Entra tremendo no pátio do palácio do Sumo Sacerdote. Por três vezes renega o seu Senhor - porque receia os motejos de uma criada. Com juramento afirma que não conhece "esse homem". Canta o galo... Jesus volta-se e fixa sobre o Apóstolo os olhos cheios de misericordiosas e doces censuras. Cruzam-se os olhares... Era a graça, uma graça fulminante que esse olhar levava a Pedro. O Apóstolo não a repeliu: saiu imediatamente e chorou com amargura a sua falta.
Assim como a Judas, como a Pedro, Jesus nos oferece sempre graças de arrependimento e conversão. Podemos aceitá-las ou recusá-las. Somos livres! A nós compete decidir entre o bem e o mal, entre o Céu e o inferno. A salvação está em nossas mãos.
O Salvador não só nos oferece as suas graças, como faz mais: intercede por nós junto ao Pai celestial. Lembra-Lhe as dores sofridas pela nossa Redenção. Toma a nossa defesa diante dEle; desculpa-nos as faltas: Pai, exclama nas angústias da agonia, Pai, perdoai-lhes, pois não sabem o que fazem (Lucas XXIII, 34).
O Mestre, durante a Paixão, tinha tal desejo de salvar-nos, que não cessava um instante de pensar em nós.
No Calvário dá aos pecadores o seu último olhar; pronuncia em favor do bom ladrão uma de suas últimas palavras. Estende largamente os braços na Cruz para marcar com que amor acolhe todo arrependimento em seu Coração amantíssimo.
* Padre Thomas de Saint Laurent. O livro da confiança.

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