domingo, 26 de maio de 2013

Adorar VS Venerar


Poderão dizer que venerar e adorar são a mesma coisa, pois o dicionário Aurélio traz esta como sinônimo daquela. Vamos ver?
Bem, nenhum dicionário é tratado de epistemologia, de hermenêutica ou de exegese. E qualquer estudo mais sério de sinonímia dirá que não há sinônimo que seja absolutamente equivalente.
Ainda que se existem duas palavras distintas para designar algo ou uma ação, é porque cada uma delas dá um matiz diverso da coisa ou da ação designada. Se duas palavras são absolutamente idênticas, a
língua tende a eliminar uma delas.
Assim, adorar não é venerar, nem, muito menos, idolatrar. Cada uma dessas palavras tem sentidos diferentes.
Se o pai-dos-burros não faz essa distinção, é porque é um pai-dos-burros muito pouco sábio. E apesar de o mais famoso pai-dos-burros, no Brasil, se chamar Aurélio, se compará-lo com qualquer pai-dosburros
estrangeiros, verá logo uma diferença... uma diferença... digamos... gigantesca.
Adorar significa reconhecer como Deus, criador de todas as coisas. Idolatrar, embora o Aurélio não explique isso, significa em certo sentido o oposto, pois designa a ação de adorar uma criatura em vez de
adorar o Criador.
Materialmente, a ação de adorar e a ação de idolatrar são idênticas. Formalmente são opostas.
Um exemplo didático para compreender a diferença entre matéria e forma, na consideração de uma
ação:
Um médico que opera o coração de um doente e um assassino, materialmente, agem da mesma
forma: abrem o peito de um ser humano com instrumento perfurador e cortante (bisturi ou punhal). Entretanto,
formalmente suas ações são opostas, pois um tem por fim curar o homem de quem abriu o peito; enquanto o
outro visa tirar a vida de quem abriu o peito com o punhal.
Assim quem adora a Deus e quem adora o ídolo materialmente fazem as mesmas coisas, que formalmente são opostas. Por isso é que existem as palavras adorar e idolatrar.
O Aurélio diz que adorar, venerar, idolatrar, amar extremamente são sinônimos. E quem o seguisse, concluiria que, quando alguém diz: “Eu adoro chocolate”, estaria considerando que chocolate é o
Criador do céu e da terra. E quando alguém dissesse: “Amo extremamente meus filhos”, estaria - na opinião
do Aurélio - cometendo ato de idolatria, já que para ele, amar extremamente é o mesmo que adorar.
O vê para que atoleiro nos conduziu o pai-dos-burros? O melhor e deixar de lado o pai-dos-burros.
Sair do atoleiro. Ser “órfão”. Pelo menos quando discutir religião ou filosofia, não nos baseemos em dicionários populares; seja “órfão”, repito.
No II livro dos Reis (18,3-4) que o Rei Ezequias destruiu a serpente de bronze feita por Moisés.
“Fez o que é bom aos olhos do Senhor, como Davi, seu pai. Destruiu os lugares altos, quebrou as estelas e cortou os ídolos de pau asserás. Despedaçou a serpente de bronze que Moisés tinha feito, porque os israelitas tinham até então queimado incenso diante dela. (Chamavam-na
Nehustã).” 2Rs (18,3-4)

Pois o que prova esse texto?
Prova:
1) que Moisés fizera de fato uma serpente de bronze;
2) que essa serpente fora conservada pelos judeus durante longo tempo;
3) que eles acabaram por adorá-la ou a prestar-lhe culto indevido;
4) que por isso, Ezequias a quebrou.
Teria agido mal Moisés ao fazer a serpente de bronze? É claro que não, pois foi o próprio Deus
quem ordenou fazê-la e olhar para ela para que os judeus se curassem.
Erraram os judeus conservando-a? É evidente que não, porque mostravam gratidão e obediência a
Deus. E entre os que conservaram estavam Moisés, Josué, os Juízes, Daví, Salomão. Será que todos eles
estavam errados? Será que nenhum deles tinha um “Aurélio” - um dicionário à mão para saber que adorar,
venerar, reverenciar, amar extremamente é tudo a mesma coisa? Por que, durante tantos séculos, Deus e
seus enviados permitiram que se guardasse a serpente de bronze?
É evidente que permitiram porque ela não era adorada. Quando a transformaram abusivamente em ídolo, Ezequias a destruiu. Abusus non tolit usum. O abuso não tolhe o uso. Se alguém abusa do culto de dulia de um santo e de sua imagem, e passa da veneração a idolatria, isso é um abuso condenável que não
proíbe nem invalida o culto de dulia - e não de latria - de um santo e de sua imagem.
Erraram depois os judeus transformando-a em ídolo? Evidente que sim, e, por isso fez bem Ezequias em destruí-la. Portanto, enquanto não se adora uma imagem como se fosse Deus, é lícito tê-la e mesmo “olhar para ela para ser curado” como Deus mandou.
E nenhum católico de verdade olha para uma imagem de Nossa Senhora e dos santos julgando que sejam Deus e adorando essas imagens. Nós as veneramos tal como um filho venera o retrato de sua mãe.
E quando rezamos para Nossa Senhora, só repetimos o texto de São Lucas — “Entrando, o anjo disse-lhe: Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo”. (Lc 1,28). Em São Lucas se lê ainda: “Todas as gerações
me chamarão de bem aventurada” (Lc 1,48). Todas as gerações chamarão a Virgem Maria de bem
aventurada.
Nosso Senhor Jesus Cristo escolheu doze apóstolos para ensinar a todos quem Ele era, e quem não ouve esses mediadores de Cristo, não ouve o próprio Cristo: “Quem vos ouve, a Mim ouve” (Lc 10,16).
Cristo exigiu que ouvíssemos seus apóstolos e evangelistas como “mediadores segundos”, entre Deus e nós.
E a Pedro Ele disse: “E tu, depois de convertido confirma teus irmãos”. A nenhum outro Ele deu essa missão.
“Eu te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na
terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será
desligado nos céus”. (Mt 16,19)

Por Rosivaldo Moreira da Silva

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