Por Frei Almir R. Guimarães, OFM
Hoje me deu vontade de conversar sobre essas coisas de todos os dias nas casas, em família. Confesso que me identifico muito com Lya Luft. Dos seus livros o que mais agrada é Perdas e Ganhos.
Vamos pinçar do seu texto algumas de suas reflexões:
Um dia me pediram para escrever sobre o “casal perfeito”: bom para que gosta de desafios. Minha primeira providência foi cercar com aspas o vocábulo “perfeito” (…) Imediatamente ocorreu-me que parceiros de um casal “perfeito” precisam se querer bem como se querem os bons amigos, e temperar esse afeto com a sensualidade que distingue amizade de amor. Duas pessoas que compreendem, sem ressentimento nem cobranças, a inevitável dose de peculiaridades do ser humano e sua dificuldade de comunicação. Em última análise, toda a sua complicação.
A melhor parceria deve ser aquela em que um aceita o outro sem ter que submeter a qualquer coisa pelo outro; em que um aprecia e admira o outro, mas tem por ele ternura e cuidados. Sobretudo aquela em que um parceiro não investe no outro todos os seus projetos, à primeira decepção passando de amor a rancor.
Se o outro servir de cabide para nossos sonhos mais extravagantes de perfeição, o primeiro vento contrário derruba o pobre ídolo que não tem culpa de nada.
No casamento saudável há um propósito geral: quero passar com você o melhor de meus dias, construir com você uma relação gostosa, importante e definitiva.
Importante não correr para o braços do outro fugindo da chatice da família, da mesmice da solidão, do tédio. É essencial não se lançar no pescoço do outro caindo na armadilha do “enfim nunca mais só!”, porque numa união com expectativas exageradas decreta-se o começo do exílio.
Amor bom, além do mais, tem que suportar e superar a convivência diária. A conta a pagar, a empregada que não veio, o filho doente, a filha complicada, a mãe com Alzheimer, o pai deprimido, o emprego sem graça e o patrão grosseiro. Quando cai aquela última gota – que pode ser uma trivialíssima gota -, a gente explode. Quer matar e morrer e nos damos conta: nada mais em nossa relação é como era no começo. Não é nem de longe como planejávamos que fosse. (Perdas e Ganhos – Ed. Record, p. 77-78). T
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